quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Encontrei um diário estranho

    Em 14 de julho de 2006, um misterioso tópico foi publicado no 2chan (fórum japonês) com o título “I Picked Up a Strange Diary”(Eu encontrei um diário estranho), e atraiu certa atenção dos usuários, ainda mais considerando que não havia sido postado em tópico de ocultismo, sendo assim um suposto relato real. O que você lerá a seguir é uma reprodução das conversas daquele tópico. “User” significa o usuário que iniciou o tópico, e “2chan” se refere a qualquer outro que tenha respondido, não sendo necessariamente a mesma pessoa.

----------------

User: É realmente assustador...


2chan: É mesmo?


User: É um diário escrito no que parece ser um caderno escolar japonês! Várias páginas foram arrancadas, então não sobraram muitas.

User: Um diário normal foi escrito no próprio caderno. É longo pra caramba! Mas o conteúdo é estranho...

“2 de julho. Está quente, está quente, está quente, está quente. Ei, HanaOO-chan (nome de alguém?), por favor, seja minha amiga. Para sempre.”

“3 de julho. Está frio, está frio, está frio. Eu brinquei com HanaOO-chan de novo hoje. Não estou sozinha, né? Certo? “

“4 de junho (por algum motivo é uma data do passado). Você não esqueceu, certo? O tempo corre atrás de mim como areia numa ampulheta. Estranho, não?”

“33 de junho (?). Ei, HanaOO-chan, ei, HanaOO-chan. Fiz amizade com um estranho hoje. Fomos ao parque e eu virei uma boneca. Ei, HanaOO-chan, onde você está?”

É seguido por várias páginas em branco e então diz “Ei!!” em letras grandes em uma delas.

Eu abreviei um pouco, mas é basicamente isso. Há outras coisas estranhas escritas também.


2chan: Isso… é horrível…


2chan: É meu.


2chan: Isso é assustador.


User: Tinha também um papel manuscrito dentro dele que estava todo rasgado. Diz: “Como a vida é divertida! Meu desejo se tornou realidade às 14h25 de hoje. Estou tão feliz por estar viva. Estava chorando por uma semana… Eu me pergunto por quê? Qual é o significado da vida? Dói tanto... Estou tão solitária e triste, e não consigo parar de chorar. Sou apenas uma criança normal, sabe?"

É algo assim, eu cortei um pouco. Está cheio de erros.

Há mais duas páginas arrancadas cobertas de letras roxas nojentas.


2chan: Sem dúvida, ele abriu a porta para outro mundo.


2chan: Quero saber mais sobre essas coisas nojentas.


2chan: Faz logo o upload das fotos do diário.


User: Estou tirando fotos agora, então espere.



2chan: Estou meio assustado.


2chan: Onde você pegou o diário?


User: Em um barranco! Meu irmãozinho o encontrou quando estávamos passeando com o cachorro. Estava sujo, então eu disse a ele para deixá-lo em paz, mas quando vi o que havia dentro, fiquei arrepiada. Ele estava com medo e não o soltou, então acabamos trazendo-o de volta.


2chan: Hmmmmm. Pegou este diário, certo? Mas isso é estranho. Quero dizer, a capa é tão limpa.


User: É mesmo, detetive Conan? Não, na verdade ele está bem sujo. O interior também é todo amarelo.


2chan: Pela foto, parece bem amarelado até. Eu admito.


User: A escrita roxa diz algo como "Sinto muito". Só de olhar, tem tanta coisa escrita aqui que copiar me faz sentir como se fosse desmaiar. Eu realmente não quero copiar tudo, mas... Para simplificar, parece um bilhete deixado por uma pessoa morta... Tem suas memórias e desculpas para sua mãe, pai, irmã mais velha, irmão mais velho, amigos, avós etc. É muito estranho.


2chan: A página roxa foi enfiada no caderno?


User: Isso mesmo, estava enfiada dentro dele! As datas também estão por todo lugar, incluindo datas que nem existem...


2chan: Você pegou em um barranco, certo? Foi deixado por uma pessoa morta?


User: Acho que as fotos são apenas rabiscos, mas tanto faz. Vou fazer o upload. O sinal do meu telefone continua cortando... Estou com medo... 



2chan: Acho que a foto do banco é a mais assustadora.


2chan: Não posso ser o único que está realmente apavorado.


2chan: Na foto do banco, não são fogos de artifício, mas um rio, certo? O que significa que a pessoa que possuía o caderno se matou em um rio próximo.


2chan: Acho que o mais assustador é o balão. As pessoas dizem que as coisas que desenhamos inconscientemente mostram nosso estado de espírito, certo? Um pássaro está voando em direção ao balão para estourá-lo. Eles se veem como um balão que se libertou da escravidão, e o pássaro está chegando para estourá-lo. Isso mostra sua intenção de cometer suicídio.


User: São apenas rabiscos, certo? Sinto que vocês estão tirando sarro de mim agora!! Elendo muito sobre isso!! Loooool!

Sério, a recepção do meu telefone é péssima.


2chan: Outra lenda urbana nasceu?


2chan: Quanto mais eu olho para a maçã, mais parece que um palito está espetando a folha.


User: Minha cabeça dói… meus ouvidos estão zumbindo. E a TV está fazendo um som agudo esse tempo todo. É um mau funcionamento da transmissão? Alguém mais consegue ouvir? 


2chan: você ainda está vivo? Kkkk. Não é incomum que as pessoas sejam possuídas por algo e depois fiquem doentes.


2chan: Droga, fiquei olhando para as fotos esse tempo todo e estou me sentindo seriamente mal kkkk. É a primeira vez que isso acontece.


2chan: As palavras "estranho" e "boneca" me pegaram. E se HanaOO-chan realmente se referir a a [User]


User: Olhei para o diário novamente.

"Mês 13 Dia 13 (aí está, uma data estranha). Hoje marca o oitavo aniversário daquele dia, né? Estou feliz, tão feliz. Então... essa pessoa com olhos brancos está olhando para mim. Quando falo com ela, tudo o que ela faz é olhar para baixo. É estranho, tão estranho. Quem é você? Você quer ser meu amigo? ...Hein? …Ei!”

Isso é assustador. Posso apagar as fotos agora?

“13 de julho. Hoje eu martelei um prego na boneca.”

Isso… também me assusta.


2chan: Você deveria queimar esse diário imediatamente.


2chan: Não consigo tomar banho \(^O^)/ E meu computador quebrou~


2chan: O que eu quero saber é por que essa garota (?) perdeu o diário?


User: Devo ir na delegacia amanhã? Ou só deixar pra lá?


2chan: Eles não vão se importar


2chan: Meu computador começou a agir de forma estranha desde que olhei para este tópico.


User: Minha cabeça dói agora. Estou com muito medo de dormir.


2chan: O caderno inteiro está preenchido?


User: Não está! Há várias páginas em branco depois do "Ei!!"

 Não prestei muita atenção ao que todos disseram... mas agora que penso nisso, parece bem limpo, considerando que o encontrei no aterro.

Que assustador. Talvez tenha acabado de ser colocado ali?


2chan: Parece algo que um aluno do ensino fundamental faria?


User: Parece meio rabiscado, então não sei. É um pouco desleixado para um adulto ter escrito...


2chan: Bem, não acho que seja falso, mas... também não acho que a história vá se espalhar daqui, rs.


User: Meu peixinho dourado e meu cachorro morreram... É só uma coincidência... certo? O que devo fazer? Estou com medo!


2chan: Depende da idade deles, não é?


User: Ambos viveram vidas longas!! É por isso que tem que ser uma coincidência, certo...

User: Os olhos da minha bonecaaaaa


2chan: O que que tem?


User: Isso é loucura. Espera aí, vou mandar uma foto.

User: Não tenho ideia do que está acontecendo! Simplesmente apareceu assim! E é real, não é algo que salvei da internet!


2chan: O olho esquerdo está olhando para baixo, que assustadoooooor.


User: Na última página do diário, há oito nomes escritos. Então, na parte inferior, diz: "Você leu. Você leu. Você leu. Você leu. Ei, vamos ser amigos. Você está sozinho. Você está sozinho. É por isso que @@@@@@@@@. Ei, OO."

Não consigo decifrar o que o @ diz. OO é um nome.

Estou farto disto. Há algumas coisas que devemos deixar em paz. Tudo isto parece falso... então não há necessidade de outro tópico. Se começarem um, não vou publicar nele.

Vou apagar as fotos quando este tópico terminar. Provavelmente é só uma brincadeira cruel de alguma criança. 

Se quiser pensar que é falso, vá em frente.


2chan: Quero acreditar que é falso, mas não consigo. O que vai fazer com o diário?


2chan: Devia se livrar desse diário imediatamente. Quando acontece algo mau, já é tarde demais.


2chan: Devemos começar um novo tópico? 


2chan: Ela disse que não se juntará a nós, mesmo que a gente crie outro tópico.


2chan: Estou seriamente aterrorizada.


------------


    Após o limite de 1000 comentários, um novo tópico foi criado, mas a usuária que encontrou o diário nunca mais apareceu. Até hoje se especula se a história era real ou não. De qualquer forma, é curioso se perguntar que tipo de mente teria escrito um diário desses. E se de fato ocorreu, quem sabe ela não esteja à espreita da usuária que pegou o diário. Quem sabe...

    Acompanhe o Macaco do Terror, e fique por dentro das lendas e mistério há muito esquecidas...

#terrorjaponês #2chan #diárioestranho ...




quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Lendas: Casa Assombrada da Marechal Floriano

  Sétimo episódio de "Cachoeira do Sul: Lendas e Mistérios", série do blog dedicada a trazer relatos misteriosos dos mais de 200 anos  desta cidade. O tema de hoje trata de um dos locais "assombrados" mais populares do município: a casa da rua Marechal Floriano.

----------------

    Muito por ser uma cidade antiga, Cachoeira do Sul possui uma quantidade considerável locais relatados como assombrados ou acusados de gerarem "sensações negativas". Neste cenário, duas casas se sobressaem sobre as outras, o sobrado da Volta da Charqueada e a residência da Marechal Floriano. Esta última, localizada em bairro nobre, pertenceu a ilustres figuras da história do município. O aspecto que mais chama atenção de quem passa por sua frente, além da arquitetura, são seus famosos pavões.Estas míticas aves, guardam um dos locais mais misteriosos da cidade. 


    A residência, que já teve vários proprietários ao longo de sua história, se destaca não só por sua arquitetura diferenciada, mas pelo tempo que ficou trancada. Após o Dr. Orlando da Cunha Carlos, último dono do local, foram décadas trancada. No entanto, na década de 1990, a casa foi vendida para outra família, e precisava ser esvaziada Sendo assim, a filha do doutor reabriu aresidência e convidou integrantes do Museu Municipal e do Acervo Histórico para verificarem a existência de objetos e documentos de valor histórico e com relevancia para estas instituições. 

    Quando chegaram lá, se deparam com o interior da casa, intacto. Toda a mobília e demais itens estavam rigorosamente nos mesmo lugares em que foram deixados, mesmo tendo se passado anos com a mesma trancadaa. Como se a residência estivesse sendo habitada todo esse tempo...

    De acordo com Miriam, pesquisadora da história local, os banheiros mantinham os frascos de perfumes, aparelhos de barbear e outros itens como se os moradores tivessem feito uso deles há pouco e os quartos com os roupeiros guardando todas as roupas, as camas devidamente compostas.

    E como é de praxe, há relatos de vozes e barulhos estranhos vindos da casa. Sem falar nos supostos vultos. Desta forma, a residência ganhou uma má fama de assombrada, gerando a todos que por ela passam, uma ambígua sensação de beleza e mistério.

    Talvez algumas coisas devessem permanecer trancadas....

----------------

Fonte/Sugestão de leitura: 

https://www.revistalinda.com.br/secoes/12/2149


#lendasurbanas #lendasdecachoeira #casaassombrada #casamalassombrada #cafevideo

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Lendas: A Cachoeira

 Sexto episódio de "Cachoeira do Sul: Lendas e Mistérios", série do blog dedicada a trazer relatos misteriosos dos mais de 200 anos  desta cidade. Fugindo mais uma vez do tema, hoje se traz a lenda da cachoeira. Mesmo não sendo exatamente um conto de terror, serve como complemento para a série de lendas de Cachoeira.


----------------

    Em risonha aldeia de pescadores, à margem de caudaloso rio, que mais além ia formar uma cachoeira, vivia Elias, guapo e esbelto mancebo, de tez bronzeada e cabelos negros. Amava de todo coração o moço pescador a Clarinha, a mais encantadora donzela do lugarejo, filha do velho David, o qual, sem motivo algum, antipatizava solenemente com Elias, a quem hostilizava, assim como à filha, procurando destruir os laços de afeição que ligavam os dois jovens. A oposição que fazia o pai de Clarinha, longe de arrefecer-lhes o amor, tornou-o ainda mais violento.


Fonte: Museu Municipal de Cachoeira do Sul

    David, apesar de ver malogrados seus esforços obstinava-se em não ceder aos rogos da filha. Não encontrava defeito nenhum no rapaz, que era bom, honrado e trabalhador, mas não queria... porque não queria... Era mera questão de capricho.

    Atingindo finalmente Clarinha a maioridade, impôs ao pai a sua vontade e, como se não quisesse ele submeter, partiu a moça para a casa de seus padrinhos que moravam na outra banda do rio. Todas as tardes, lutando na frágil canoa de cedro com as marulhosas da torrente, lá ia o mancebo cantando alegremente ver a querida noiva.

    Uma tarde a aldeia estava em festa. Naquele dia casavam-se Elias e Clarinha. O sol, ao deitar-se preguiçoso no horizonte, dourava com seus últimos raios as águas encrespadas do rio que iam lá adiante formar a cachoeira. Na canoa ornada de flores, que balouçava na praia, saltou Elias. O vento era favorável, não tinha necessidade de remos, deitou-os no fundo da embarcação e, desfraldando a vela, fez-se ao largo. Ia buscar a noiva. O casamento deveria realizar-se, à noite, na capelinha do lugar.

    Quando o jovem pescador afastou-se com a vela solta ao vento, o velho David, em pé sobre a barranca, rugiu entre dentes: - Maldição!... Vais à vela, miserável!... o vento te protege... Quisera que fosses remando, como é teu costume, porque então havias de ir parar, despedaçado, no fundo da cachoeira... e a minha Clarinha, a minha querida filha não seria tua!... O velho não recuara diante do crime para impedir o casamento. Havia feito vários furos nos remos de Elias para que, assim enfraquecidos, se partissem antes dele atingir a margem oposta.

    Pano enfunado, a canoa do noivo abicava à praia fronteira. Clarinha, que ali o esperava, embarcou. Amainara o vento. Colhida a vela, a embarcação, acompanhada de outra em que vinham os padrinhos da donzela, cortou as águas em demanda da aldeia. Chegando o barco ao meio da corrente, para vencê-la o moço pescador começou a remar com todo o vigor de seus braços fortes. Mas, de repente, empalideceu – acabavam de quebrar-se, um após outro, os dois remos – e a canoa descia o rio, a princípio lenta, depois em vertiginosa corrida. Elias tomou nos braços a noiva que desfalecera e, atirando-se à água, tentou nadar para terra. Baldados esforços. A correnteza o arrastava. Várias embarcações, entre as quais a em que vinham os padrinhos de Clarinha, lançaram-se em socorro. Foi tudo em vão...

    O velho David, de pé sobre a ribanceira, imóvel como se fora de pedra, as mãos na cabeça, o olhar desvairado, viu-os abraçados lá ao longe despenharem-se na cachoeira. E murmurava: - Matei-o... mas matei também minha filha...

    Na capelinha da aldeia, lugubremente, começou o sino a dobrar a finados...

    De pé ainda sobre a barranca, louco, o velho, com os olhos desmesuradamente abertos, fitava a neblina que além subia da cachoeira e repetia baixinho, muito baixinho: - Matei-a... matei-a..."

Marques Júnior


----------------

    Texo originalmente publicado na edição do dia 6 de março de 1907 do jornal O Commercio.

Fonte:

https://historiadecachoeiradosul.blogspot.com/2014/12/serie-historias-populares-cachoeira.html#comment-form


#lendasurbanas #lendasdecachoeira #lendadacachoeira #historiaspopulares #cafevideo

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Lendas: Sobrado Mal-Assombrado

 Quinto episódio de "Cachoeira do Sul: Lendas e Mistérios", série do blog dedicada a trazer relatos misteriosos dos mais de 200 anos  desta cidade. O tema de hoje trata da lenda mais famosa do município, a casa mal assombrada. 


-------------

    Entre tantos locais supostamente amaldiçoados em Cachoeira, este certamente é o mais memorável. Na Volta da Charqueada, rua quase isolada do restante da cidade, existe um antigo sobrado. Quem o vê, não pensaria que há um século atrás pertenceu à família mais conhecida do município, os Soares de Barcellos. Especificamente, se tratava de uma chácara do Coronel David Soares de Barcellos, o indivíduo que mais vezes ocupou o cargo de prefeito. Ele, juntamente com sua esposa, Alzira Águeda, e seus 24 filhos, muitos dos quais tinham vocação para música. Desta família, iclusive, saiu um reconhecido maestro, Alcindo Barcellos.

    Havia também Maria Alzira, moça com certa aptidão para o piano. Esta faleceu precocemente, em agosto de 1903 aos 18 anos. Tendo falecido tão jovem, e sendo filha de uma importante personalidade da época, sua morte deve ter causado comoção na comunidade local, gerando misteriosas versões a respeito do ocorrido.

    Os diversos relatos existentes desde aquela época, misteriosamente coincidem, mesmo vindo de diferentes pessoas ao longo dos anos. Muito se fala a respeito de vozes e vulto em diferentes locais. No entanto, o fenômeno mais conhecido é o som do piano tocado pela jovem que teve sua vida por lá. Às vezes, rezam as lendas, é possível ouvir a misteriosa melodia do instrumento. E mesmo nos dias atuais, as histórias continuam a perturbar o imaginário da população. 


----------------

    A título de curiosidade, em dezembro de 2012, a equipe do "Visão Paranormal" esteve em Cachoeira do Sul para investigar as assombrações em torno do sobrado mal-assombrado, assim como no Paço Municipal. Eles se denominam com o primeiro programa de caça-fantasmas do Brasil, chegando a aparecer, inclusive, no talk-show "The Noite", transmitido pelo SBT. "Gravamos passos e os medidores do CEM (aparelho detector) acusaram a presença de fantasmas", relata a descrição do vídeo (parte 3 de 4).



Fontes/Sugestões de leitura: 

https://www.revistalinda.com.br/secoes/12/2149

https://www.youtube.com/watch?v=pLbp96PnL_k

https://www.youtube.com/watch?v=K2-wkBBunKc


#lendasurbanas #casaassombrada #casamalassombrada #sobradoassombrado #lendasdecachoeira #visãoparanormal

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Lendas: O Surgimento do Arroz

    Quarto episódio de "Cachoeira do Sul: Lendas e Mistérios", série do blog dedicada a trazer relatos misteriosos dos mais de 200 anos  desta cidade. Fugindo um pouco do tema, hoje se traz a lenda do arroz. Apesar de não ser um conto de terror, serve como uma pequena curiosidade dentro do repertório de lendas de Cachoeira.


----------------  



    Conta-se que, em 1637, quando os bandeirantes de Raposo Tavares devastaram o atual município de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, destruindo todos os aldeamentos indígenas que os Jesuítas haviam fundado, conseguiu sobreviver apenas um jovem índio chamado Tuti.

    Desesperado com a perda dos seus pais e de sua morada, Tuti sentava-se à margem do Rio Jacuí e via ali noites e dias nascerem e morrerem.

    O índio chorava. Chorava de fome, chorava de dor, e de saudades.

    E tudo parecia chorar com ele; o sol era pálido, a noite era negra, as florestas haviam se curvado e as águas endoideceram.

    Seis sóis eram passados. Tuti, sentado no mesmo lugar, broqueado de fome e de dor, com a face chicoteada pelo vento e os olhos cravados ao céu, como a pedir clemência, enxergou um vulto.

    Neste momento tudo cessou. As águas continuaram enfurecidas, mas em profundo silêncio, o vento adormecera nas moitas e no céu, como que prevendo felicidade, a lua sorria.

    Sobre as águas, o vulto aproximava-se de mansinho.

    Vulto de mulher, trazia em suas vestes a cor do rio com todos os seus peixes, a cor do céu com suas estrelas, a cor das matas com suas aves.

    Trazia o sol em seus cabelos, e seus olhos luziam como diamantes.

    Deixando rastros luminosos nas águas enfurecidas do rio, aproximava-se mais e mais, até chegar frente ao índio desconsolado.

    Então, falou-lhe:

    – Tenho aqui em minhas mãos a semente que saciará a tua fome e de todos que virão.

    Tome-as.

    Eu as recolhi de tuas próprias lágrimas caídas no rio.

    Dizendo isto, o vulto luminoso deixou escorrer de suas mãos uns poucos pingos dourados, os quais o índio, com gestos selvagens, colheu.

    O vulto sumiu. Um violento temporal desabou.

    O índio de tão fraco desmaiara, apedrejado pelo granizo caído do céu.

    E as sementes foram levadas pelas águas.

    Após noites e dias de chuva, quando o sol, radiante, voltou, Tuti encontrou uns cachos, já dourados, com as sementes.

    Colheu-os, preparou-os e saboreou.

    Era uma plantinha frágil, mas que lhe dera muita vitalidade.

    Hoje chamamos esta plantinha-ternura de ARROZ.

    E para maior mistério, à meia-noite, às margens do Rio Jacuí, há um profundo silêncio, embora as águas desçam endoidecidas.

    Isto, talvez, em homenagem à Deusa das Águas, que saciou a fome de Tuti e nos semeou o arroz.

----------------


    O texto acima foi originalmente escrito por Elisabeth da Silveira Lopes e publicado pelo Jornal do Povo na edição de 10 e 11 de setembro de 2005.

Fonte: 

Jornal do Povo – 10 e 11/9/2005 – página 13 / http://www.guiacachoeira.com.br/?url=151


#lendasurbanas #cachoeiradosul #lendasdecachoeira #lendadoarroz #lendasindígenas